terça-feira, 15 de julho de 2008

A aliança na política e a política de alianças

A aliança na política e a política de alianças I

Mais do que mero jogo de palavras, há distinções entre as duas sentenças, de natureza histórica e programática.
No PT há percepções diversas e contraditórias sobre essa temática.
O caso mais notório no presente pleito municipal deu-se em Belo Horizonte, cuja aliança formal entre PT e PSDB, defendida pelo prefeito daquela capital, Fernando Pimentel (PT) e pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), foi rejeitada pelo Diretório Nacional do PT, pelo menos formalmente.
PSDB e DEM não fazem parte da política de alianças do PT, mas admite-se aliança política com essas agremiações em situações específicas, todas submetidas à aprovação dos diretórios estaduais ou nacional, conforme o caso.
Pode-se dizer que, em síntese, há duas posições ainda em disputa no interior do partido e que aglutinam em torno de si as diversas correntes de pensamento, quais sejam:
1ª. A de que a política de alianças do PT deve restringir-se aos partidos do chamado campo democrático e popular;
2ª. A de que a política de alianças envolve todos os partidos que estão na base de apoio do governo Lula (bem mais ampla, portanto).
Esta última conquistou a maioria dos votos nos fóruns partidários e tem sido adotada como diretriz nacional, mas não como imposição a Estados e Municípios.
Grosso modo a política de alianças, embora agregue elementos conjunturais, valoriza elementos estratégicos e ambiciona ser duradoura, por assentar-se em convergências ou afinidades ideológicas e programáticas.
A aliança na política, por sua vez, tem menos compromisso com a longevidade, pois é essencialmente conjuntural.

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A aliança na política e a política de alianças II
No Pará

No Pará, o Encontro Estadual do PT que discutiu sobre política de alianças para a disputa ao governo estadual daquele mesmo ano, aprovou aliança com o PMDB desde o primeiro turno, aliança esta que não se efetivou por fatores diversos, tais como a mudança do nome do partido para a disputa (retirada do nome de Mário Cardoso em favor de Ana Júlia) e a posição do próprio PMDB de que a aliança no primeiro turno não seria a melhor tática eleitoral.

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A aliança na política e a política de alianças III
Indagações

Mas até que ponto uma aliança conjuntural influencia e corrompe a identidade pública de um partido como o PT?
Mais objetivamente: a aliança com o PMDB impede a governadora Ana Júlia de cumprir as promessas de campanha e de fazer as mudanças necessárias para começar a mudar o Pará?

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A aliança na política e a política de alianças IV
Ética e cultura política

A minha avaliação é a de que o caráter da aliança com o PMDB - como o é com outros partidos, como o PTB, por exemplo – não impede o cumprimento do programa de governo apresentado por Ana Júlia ao povo do Pará.
Pelo contrário, a aliança, dado o seu caráter, favorece o cumprimento do programa, uma vez que reduz a possibilidade de a oposição obstruir as políticas de governo.
Quando falo no caráter da aliança com o PMDB, refiro-me ao fato de que a aliança não se deu em torno do programa de governo, ou seja, o programa de governo de Ana Júlia não foi negociado ou mediado em razão da aliança.
Mas há um outro aspecto importante que deve ser considerado em relação à aliança com partidos que não compõem o que chamamos tradicionalmente de “campo democrático-popular”: ética e cultura política.
A aliança com o PMDB é satanizada, ironizada e questionada, a depender da intenção do agente.
Os petistas, simpatizantes e eleitores de Ana Júlia que questionam a aliança o fazem por razões compreensíveis e coerentes, dadas as profundas diferenças que sempre separaram as siglas, sobretudo em razão do que representa Jader Barbalho para a esquerda.
Os articulistas e blogueiros dividem-se entre aqueles que o fazem por razões semelhantes as de petistas e simpatizantes e aqueles que o fazem a serviço da oposição, para constranger a governadora Ana Júlia e o PT e para manter o governo na defensiva.
É óbvio que os Demucano e seus porta-vozes (jornalistas, radialistas, articulistas, blogueiros e comentaristas de blogs) não questionam a aliança por razões de natureza ética ou por compromisso com a causa pública, como todos sabemos.
Almir e Jatene, por exemplo, que governaram o Pará por doze anos, mais do que auxiliares diretos, foram guindados à vida pública pelas mãos de Jader. E para quem, cinicamente, venha dizer que eles romperam no passado, basta lembrar do apoio decisivo que Jatene recebeu de Jader para tornar-se governador, em 2002, contra Maria do Carmo.

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A aliança na política e a política de alianças V
Terreno fértil para a intriga

Os Demucano batem nessa tecla incisiva e repetidamente por que perceberam que há terreno fértil para instalar a intriga e a discórdia no interior do governo.
Faz parte do ardil repetir insistentemente que Jader manda no governo; que a causa dos problemas do governo estão na aliança com o PMDB; que a saúde está como está por que o PMDB está no comando, e por aí vai....
O problema é que há gente importante no governo caindo nessa trampa e deixando-se pautar por essa cantilena e permitindo a instalação do vírus da desconfiança e da instabilidade no tecido do governo.
O argumento de Lúcio Flávio Pinto sobre o drama da Santa Casa (JP nº 421, 2ª quinzena de julho/2008) é sintomático de que essa tese assume ares de verdade: “(...) O PT é responsável pelo enfraquecimento do padrão técnico do atendimento, ao dividir o poder interno na instituição entre os ‘seus’ militantes ou simpatizantes e os agregados do PMDB, partido com o qual teve que dividir o setor de saúde em função dos acertos políticos para a vitória e a sustentação do governo. Como os petistas não confiam nos peemedebistas, que, por sua vez, ignoram o mando dos aliados, certos de que eles são mais incompetentes ainda nas questões estritamente técnicas, instalou-se um vácuo que ceifou cabeças e, junto com elas, a centralização do mando em bases profissionais.”.
Com o consentimento do governo vai assumindo contornos de verdade absoluta a idéia de que a aliança com o PMDB é a causa dos problemas enfrentados pelo governo.

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A aliança na política e a política de alianças VI
Nitidez, dignidade e coragem

É exigível que o governo – em especial a governadora Ana Júlia – assuma, imediatamente, uma posição mais nítida e compreensível acerca da aliança com o PMDB, seja ela qual for, de modo a virar essa página.
Se o convencimento é de que essa aliança, de fato, compromete as realizações e o caráter do governo, então que assumam com dignidade e coragem essa avaliação e desfaçam a aliança.
Do contrário, com a mesma dignidade e coragem, que assumam a aliança - com todos os seus limites e possibilidades – e retirem esse trunfo da oposição. Pois, a permanecer esse estado de coisas, logo chegará à superfície a ebulição que já está em curso no fundo do caldeirão do governo, para regozijo da oposição.
Quedar-se indeciso é que não dá!
A indecisão, segundo uma crônica de Mário Prata, é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.

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A aliança na política e a política de alianças VII
Um roteiro

Roteirizo o meu pensamento acerca da aliança:

Emerge, da aliança celebrada no segundo turno das eleições de 2006, uma força social, integrada por lideranças e forças políticas heterogêneas e contraditórias (com um partido da chamada esquerda, como é o caso específico do PSB, dirigido por uma liderança posta em xeque, por razões éticas), mas sob a direção hegemônica do PT, tendo à frente uma liderança de massas carismática;
A aliança não se deu em termos programáticos, mas em função de um objetivo convergente: apear do governo um adversário comum (embora este adversário assim o seja por razões diferentes) que ali se instalara há doze anos e permitir a ascensão de uma nova força política;
Não tendo, a aliança, repercussão no programa de governo, mantém-se este fiel aos compromissos assumidos durante o primeiro turno eleitoral;
A prerrogativa de indicação de cargos no governo, que é exercida pelo PMDB e, como de resto, aos partidos aliados, não se confunde com a prerrogativa de comandar o governo, esta privativa da governadora;
Sendo a governadora Ana Júlia (ao lado do vice-governador) a portadora de mandato outorgado pelo povo e, portanto, responsável política pelos rumos do governo e, sendo o PT a força política hegemônica no interior do governo, aceitar a idéia de que o PMDB, ou qualquer outro aliado, dá as cartas, equivale a reconhecer-se incapaz de exercer o comando da aliança e do governo;
Dirigir essa força social que dá sustentação ao governo equivale a definir a matriz ideológica e programática deste governo. E esta responsabilidade recai sobre a governadora e sobre o PT; Isto requer capacidade para generalizar, a um só tempo, o programa de governo apresentado à sociedade; os valores éticos e a cultura política de quem está no comando;
Aliar-se com o PMDB não pode sinalizar qualquer condescendência com a corrupção ou relativização da ética, como tentam acusar os opositores, como se a corrupção estivesse presente somente nas hostes do PMDB; como se a corrupção não fosse uma mal que se instala em qualquer organização humana; como se não houvesse corrupção no âmbito do PT;
O desafio que se nos coloca não é o de nos reconhecermos puros, mas o de nos forjarmos comprometidos com a mudança. Combater a corrupção no interior de um governo democrático-popular e comprometido com a justiça social, como está no gene do governo de Ana Júlia, requer obstinação, fervor, desprendimento, franqueza e auto-vigilância;
Não iremos a lugar algum se apenas apontamos a corrupção e as mazelas alheias sem que cuidemos de enfrentar as nossas próprias;
Não pode uma força política, como o PT que, além de ninguém mais do que a governadora, está no comando dos órgãos mais estratégicos do governo (Casa Civil, SEPLAN, SEFA, SEGOV, SEDUC, SEMA, SEDURB, SETRANS, SAGRI, SEDES, SETER, SEIR, SEDECT, ente outros) e que compartilha a gestão de outros, como a SESPA, por exemplo (a gestão administrativa e financeira do órgão - inclusive do Fundo Estadual de Saúde – está sob a responsabilidade de indicados do PT), cair nesse ardil dos Demucano e de seus porta-vozes de que o PMDB ou de Jader manda no governo;
Está na hora de dar um basta nessa conversa e de assumir que o problema reside em nós mesmos.

11 comentários:

Anônimo disse...

o fato é que para a maioria da população não existem mais partidos políticos com ideologias distintas e sim grupos de interesses.Será que é só quem tá de fora da política partidária é que enxerga isso?

Anônimo disse...

Interessante sua análise charles,coaduna com o que eu disse em um comentário que fiz aqui neste espaço.quem ganhou a ELEIÇÂO foi o programa do PT do Pará,mas o problema Charles os programas são letras mortas.Principalmente quando as pessoas que São indicadas para os cargos,ao assumirem já ficam preocupadas não com o projeto político que lhe fez estar ali e sim como fazer para que em 2010 se elejam ou como eleger um áulico seu seja eleito.Cadê a preocupação com a atividade meio.Ora meu caro o que tá acontecendo é cada um querendo livrar o seu da reta,porque depois a publicidade dá um jeitinho juntamente com a militância .

Anônimo disse...

"Almir e Jatene, por exemplo, que governaram o Pará por doze anos, mais do que auxiliares diretos, foram guindados à vida pública pelas mãos de Jader. E para quem, cinicamente, venha dizer que eles romperam no passado, basta lembrar do apoio decisivo que Jatene recebeu de Jader para tornar-se governador, em 2002, contra Maria do Carmo".

M. Pierre: Esse fato acima seria um bom motivo para os "DEMUCANOS" exercitarem o que demonstram não saber, que é a coerência com sua história tão recente.

"O problema é que há gente importante no governo caindo nessa trampa e deixando-se pautar por essa cantilena e permitindo a instalação do vírus da desconfiança e da instabilidade no tecido do governo".

M. Pierre: Charles, o povo votou na Ana Júlia e na aliança já estabelecida com o PMDB no momento soberano do voto da grande maioria do Povo do Pará.

Concordo que o PMDB deve sim cumprir um plano de governo que atenda definitivamente a demanda popular votado pelos cidadãos que exercitaram o voto deferindo tanto a aliança política com o PMDB/Jáder Barbalho, quanto o perfil de governo defendido em campanha; mas vejo que isso seja possível sem “rasgar” a gratidão política no seio governamental.

O que avalio ser injusto meu caro Charles é querer se "livrar" do PMDB porque os "DEMUCANOS" estão traduzindo o ócio, pós-derrota, com ofensivas ao governo e a governadora alegando a participação do PMDB - que os militantes do PT deveriam agradecer esse decisivo apoio - a oportunidade de hoje estarem rompendo um ciclo de "DEMUCANOS" que sem moral alguma tentam desqualificar o governo e a aliança com o aliado da hora da DOR.

Charles, eu não milito a tal "macro política", mas quero deixar esse manifesto e concluo defendendo o seguinte: Que o governo defina uma regra clara e vigiada de convivência governamental, mas não apague a memória dos meses eleitorais de 2006, onde o tão criticado PMDB dedicou sua tradicional densidade eleitoral e foi decisivo para a vitória do projeto de coalizão partidário da Governadora Ana Júlia.

Anônimo disse...

Caro Charles. Parabéns pelo espaço. Mais uma casota (oikos) para o livre pensar que não é apenas pensar (Ziraldo? Dizia livre pensar era só pensar nos tempos da ditadura.) Alianças? Sim, analisas coerentemente o que isso representa para gregos e troianos do PT e para os guelvos e guibelinos do DEM-PSDB. Na base de tudo a heterogeneidade e as assimetrias morais e amorais das interações intra e interpartidárias que, por sua vez, alavancam acordos (estreitos e o quanto possível sigilosos) em dimensões temporais e competitivas do pré (coligações) e pós-eleições (coalizões). Em quaisquer dos tempos, o mesmo jogo, tão velho quanto a política (o inimigo do meu inimigo é meu amigo, dizia Mao, parafraseando Maquiavel, que parafraseou Tito Lívio, que parafraseou Platão, que parafraseou um pré-socrático, que deve ter ido buscar isso lá nos confins da lógica da esperteza humana oriental). Ou seja: quando se trata de alianças, percebe-se, claramente, que estas se consolidam nos movimentos tectônicos das camadas de apoio e de oposição ao status quo ante. Acertos e cálculos das relações custo/benefício (e vice-versa) que se expressam na captura e alienação de eleitores, ou nas trânsfugas legislativas (explícitas ou não). Governar, governar... ah como isso é divino-maravilhoso quando se tem unanimidade (mesmo quando suspeita de "burra"!). Aliança, penso: não se constrói querendo, mas pela tendência inexorável do que aqui é bom chamar de objetividade contraditória da busca do consenso mínimo (o de menor custo) que nos salva de passar o papelão da derrota. Quem não pode com o pote, não pega na rodilha, diziam os nossos avós...

Anônimo disse...

A nossa maior certeza e felicidade, é saber que o PT so vai governar uma vez esse nosso Estado Paroara. Graças a Deus! se voces não se entendem entre si, imagina com os outros! Fora PT

Vaporubinho

Anônimo disse...

Lendo o Blog do Charles, tive a certeza de que o dito cujo não tem falado com sua ex chefa.
Não tem, mesmo.
Principalmente quando o assunto é o DEM...

Anônimo disse...

Seria interessante se outras lideranças do PT tivessem a coragem de fazer este debate e externar o que realmente pensam sobre o leque de aliança(que cresce a cadaa dia)que sustenta este governo.

David Carneiro disse...

Fala Charles! Não sei se você lembra de mim da Juventude do PT. Também fiz um Blog há um tempo atrás. Esse debate sobre as alianças é interessante. Tenho convergências e divergências que vo apresentar logo mais. Abraços companheiro.

www.tribunadodavi.blogspot.com

Anônimo disse...

Dois Charles que não deram certo na vida:
O de lá, da Diana.
E o daqui, da Ana.
Ambos levaram um ponta-pé na bunda.

Uma brincadeirinha pra animar o blog !

Anônimo disse...

Faço minhas as palavras no anônimo do dia 15 de julho, as 23:12: FOOOOOOOOOOOOOOOOOOORA PT!!!

Anônimo disse...

Sou o anônimo das 12:38 e quero parabenizá-lo pela forma como está conduzindo a moderação dos comentários, com democracia.
Não concordo com muitos dos seus posts, mas continuarei visitando o seu blog.